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sábado, 29 de agosto de 2015

sobre liderança, tia do café e bibliotequeiros

[originalmente postado no blog minhavidadeescriba.blogspot.com no dia 28 de agosto de 2015 com leves alterações para esse blog aqui]


Essa breve postagem para catarse suprimida foi feita pela panda narcoléptica. Ela gosta de deliberar sobre a Biblioteconomia (Curso em que estuda e abraçou como profissão pro resto da vidinha dela) e sinceramente a criatura usou gifs de Spaceballs mais do que o permitido.
(Vão ver esse filme!! É bão demais!!)

Então já foram avisados!

===xxx===
Durante o breve tempo em que estive inserida no mercado de trabalho, os locais onde estagiei/trabalhei tiveram uma certa falta de liderança ou liderança alguma. Ou acontece da liderança estar já de saída e eu, peixinho pequeno inexperiente tenho que me responsabilizar por coisas que mal sei como acontecem.

A situação está acontecendo novamente, e mesmo com a cabeça fervendo de ideias e as mãos tateando coisas para serem feitas - e são muitas na parte mais de trazer gente pra biblioteca - aquele medo irracional de falhar horrivelmente e não conseguir fazer muita coisa se perpetua. Eu não gosto de holofotes no meu rosto, prefiro os bastidores, é lá que a dominação mundial acontece, é lá que me sinto confortável e segura, é nos fundilhos do processo que todo ao redor é transformado.

Eu gosto de gente mandando em mim (posso gostar, mas não quer dizer que irei obedecer imediatamente, tem criaturas que não lêem as regras ou o manual ou sequer conhecem a legislação, é difícil não querer contestar de alguma forma), prefiro ter alguém superior na hierarquia do que levar o chumbo grosso, sim, eu sou covarde, não, não quero ficar a frente das coisas, não quero me impor, porque aprendi que na vida você faz mais diferença sendo a tia do café, a incógnita, a precisa, a exata, a indispensável tia do café.

A lição da tia do café me foi apresentada logo no começo do curso de Biblio(teconomia oras!) e por incrível que pareça nos poucos exemplos admiráveis de pessoas que passaram na minha vida.

O causo é o seguinte: Era uma vez (como sempre) uma biblioteca especializada com quase uma dezena de bibliotecárias, em seus saltos altos, roupinha comportada e cheia de dedos devido a pós-graduação, e os usuários da unidade de informação eram pessoas do alto escalão do judiciário, gente que desconhece a vida real, aquele tipo de gente que cuida das leis, mas que faz pouco uso delas (Porque bem, todas as leis são contestáveis, né?). E havia a tia do café. Ninguém sabia o nome dela, quem era, se tinha família, se recebia salário mínimo, se tinha problemas, sonhos ou valores, os outros estavam ocupados demais sendo eles mesmos para perceber na tia do café.

Até porque EU SEI que meu café é bom. Por isso sou a tia do café.
Mas ela entregava o café com todos os pormenores para os da hierarquia do judiciário. Ela conhecia cada café bebido, cada preferência na temperatura, gosto, textura, acompanhamentos, ela sabia o nome de cada juiz, delegado, diplomata, advogado, tabelião e whatever das quantas que frequentava aquele espaço. Ela sabia quando eles precisavam de café para continuar os estudos, para terem um bom dia, para acordarem, para se sentirem bem com as pilhas de processos, ela simplesmente sabia, porque esse era o trabalho dela, saber quando o usuário precisaria dos serviços antes mesmo dele pedir.

Então numa especializada com a nata da elite judiciária, as bibliotecárias foram tirando férias, tirando licença, aposentando, mudando os turnos e ninguém percebia. Mas foi a tia do café ir pra perícia da Previdência porque estava com problemas de saúde, todos souberam. O serviço que era extremamente vital para a rotina dos advogueiros (fornecimento de café) foi suspenso. Ser servido pelas bibliotecárias não fazia sentido - o ego também não deixa nessas horas. Não é uma história feliz, nem jornada de herói: é o ser indispensável na vida das pessoas que buscam informação. É a diferença que fazemos como bibliotecários na vida das pessoas, por mais bobo que possa parecer.

O objetivo é fazer com que os usuários venham mais vezes pegar café...
Tias do café são aquelas pessoinhas que brotam em lugares precisos e de necessidade causal, prontas para auxiliar a vida dos usuários. Sem o café, o essencial líquido locomotor da energia de nossos corpos moderninhos, nada é criado ou transformado ou qualquer coisa. Sem o café, os usuários se sentem negligenciados pelo espaço em que ocupam, sem o café não há possibilidades de interação, nem que seja para perguntar: "dois ou três torrões de açúcar?". O papel fundamental da tia do café é de mostrar aqueles que são apresentáveis, ajustáveis, super entrosáveis na vida social que o carisma e a alegria eufórica de caráter que fazer a máquina rodar é algo mais embaixo.

Ser a tia do café se tornou um processo em que estou me aperfeiçoando desde pequena, fazer o melhor que posso sem ter os olhos virado pra mim. É mais interessante dessa forma, até porque chegará um dia, um bendito dia em que alguém que você serviu café irá te parar no meio da rua, e dizer algo do tipo: "sabe aquele café que derramei na mesa e você não se importou em limpar, aquele gesto fez toda diferença na minha vida." - porque eu já agradeci muitas tias do café nessa minha vida de escriba. Não por derramar o café, mas oh well fuck, vocês entenderam a metáfora!

(Um dos motivos de eu querer voltar para uma 2ª graduação foi por conat disso. Agradeci a tia da biblioteca que me deixava ficar por lá quando não queria assistir aulas ou quando precisava desesperadamente de alguma coisa para fazer para não surtar com a situação que estava ficando mais nítida lá em casa. Dona Vaninha me serviu mais que um café, ela me manteve focada nas coisas)

Esse é o tipo de recompensa que eu não conseguiria em sala-de-aula, ou na música, ou atrás de um balcão de papelaria, supervisionando uma ONG ou escrevendo manuais de ajuda ao usuário, dentro de uma biblioteca eu consigo. E todo mundo ganha aqui.

Essa sou eu agora, nesse exato momento,
Não sei lidar com liderança, não sei ser líder, amo seguir regras (as escritas, legisladas principalmente), se eu puder fazer o trabalho mais quieto e sem visibilidade alguma pras minhas fuças, esse é o esquema mais acertado. E a biblioteca que acredito (O ideal do fazer bibliotecário) é o de que esse é um espaço público de uso comum, com algumas regras sociais já pré-estabelecidas, outras que devem ser colocadas em prática para otimizar o trabalho aqui, mas infelizmente eu não irei impor a minha vontade em um local onde tenho certeza que não é meu.

E não é, nunca vai ser.
(A biblioteca é da comunidade, gente...)

Devido a sinuquinha de bico em que me encontro - falta de liderança, responsabilidades vindo para mim que não posso tomar decisões ainda, o papel de tia do café está sendo tirado de mim, não quero isso pra minha vida! Não sei como serão as coisas daqui em diante, já estive em uma situação parecida e fui podada de muitas formas (Isso tudo vai travando aos poucos o meu fazer de café...), não me sentir segura no que faço é receita pra #EPICFAIL e isso vem me perturbando demais esses dias.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A crise dos 26 – Parte 2





Tudo começou numa aula de formação e desenvolvimento de coleções, numa quarta feira qualquer. Era a primeira aula dessa disciplina e uma professora já conhecida falava sem parar, contando as suas histórias e ministrando a sua aula como de costume. Não, não é a minha professora favorita, mas tenho que dizer que ela sabe dar aula, a gente aprende muito ali, e provavelmente vamos repetir suas histórias por aí. Então, estava eu lá prestando atenção em tudo que era dito e simplesmente me caiu uma ficha, assim do nada, e eu me perguntei que que eu to fazendo aqui? Repito a aula não estava ruim, era só eu que não me encaixava mesmo. 
Não quero começar na minha vida uma fase de coisas não terminadas. Eu vou sim me formar em biblioteconomia, mas é certo que não será em quatro anos. Já ouvi historias de pessoas que desistiram do seu curso na sétima fase, e eu sempre pensei “nossa que idiota, desistir faltando tão pouco pra se formar”, hoje a idiota sou eu. A vontade de desistir de tudo, arrumar qualquer emprego que de pra sobreviver e seguir a vida é muito grande. Talvez eu esteja vivendo uma adolescência tardia, já que quando eu tinha 16,17, 18 anos e podia pensar assim eu tinha responsabilidade demais pra ser adolescente. Eu não saia de casa, estudava, trabalhava e só. As poucas saídas se resumiam a filmes na casa de amigos ou passeios pelo bairro pra comer cachorro quente. Bons amigos, aliás, que carrego comigo até hoje. Muitas vezes em algumas conversas com uma amiga em especial a gente comenta “nossa como a gente era idiota, como éramos bobinhas, a gente não aprontava nada!” e o mais engraçado era que nossas mães pegavam muito no nosso pé. Já escuto minha mãe falando: “depois de velha tu vai me incomodar? Tu nunca foi disso.” Na verdade eu não quero incomodar ninguém, só quero viver coisas que eu nunca vivi, sem ter que me preocupar tanto com o futuro e com tantas responsabilidades. “Mas você pode equilibrar as duas coisas” aham, me ensina? 

Se realmente existe essa tal de reencarnação, na próxima eu quero ser cachorro.


Ou um pardal.


Ser panda ta muito difícil. 



quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O Túmulo dos Vagalumes - Para ver e refletir

Hoje Little Boy completa 70 anos do seu lançamento. Poderia muito bem ser o título do álbum de alguma banda famosa, mas é o nome da bomba atômica que destruiu Hiroshima em 06 de Agosto de 1945. E para piorar a situação, ela não seria a única a fazer sua estreia, tendo sua companheira Fat Man, uma bomba nuclear, sido lançada sobre Nagazaki três dias depois. Nada jamais justificará o uso de armas como estas. Armas que destroem de forma instantânea e também progressiva, porque o cair das bombas não foi o ato final, e sim o inicio do sofrimento de milhares de sobreviventes. 

Falar sobre esse pós-guerra é algo muito abstrato para aqueles que nunca presenciaram situação similar. E de forma alguma é do meu desejo que um dia alguém passe por isso (mas não podemos esquecer das milhares de pessoas que diariamente morrem pelo mundo afora, decorrente de problemas diversos, causados principalmente pelo homem.)


No ano de 1988 o Studio Ghibli lançava uma animação da obra Hotaru no Haka, traduzida em português como O Túmulo dos Vagalumes ou O Cemitérios dos Vagalumes. Durante quase uma hora e meia de filme sentimos o quanto a vida e a sociedade conseguem ser cruéis para os dois irmãos protagonistas, Seita e Setsuko. Repleta de dor, sofrimento e angustia, essa animação choca e faz doer até o coração mais forte. Além de ser uma obra magnifica, ela é uma lembrança latente de que toda ação tem sua consequência, seja ela imediata ou tardia. Para aqueles que não conhecem, deixo aqui a oportunidade de ver e se emocionar, e de quem sabe refletir um pouco mais sobre aquilo que fazemos a nossos semelhantes.


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